Artes Visuais 2007 Unicastelo

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quinta-feira, 16 de agosto de 2007

Ètica

"O dia que o tédio invadir a minha alma no banheiro" frase do Prof. Andrei - disciplina de Estética do curso de Artes Visuais - 2º semestre - noturno sala 315


O "Mundo das Idéias" de Platão PDF Imprimir E-mail
31 de outubro de 2006

Pergunta – Tenho notado que, no mundo acadêmico, há muitas opiniões a respeito de Platão. Vou só colocar alguma coisa para dar uma noção do “mundo da idéias” de Platão: “a idéia do quadrado existia antes do homem conceber o quadrado”, ou, “existe o melão, então há a idéia do melão”. Diante disso, pergunto-me: se o melão for extinto da face da terra, para onde vai a idéia do melão? Platão dizia que todo o conhecimento reside na alma, no interior. Gostaria que a espiritualidade desse um esclarecimento a respeito do pensamento de Platão, do “mundo das idéias” de Platão.

Jan Val Ellam – Platão foi, nos tempos mais recentes da história da humanidade, ou seja, nos últimos milênios, talvez o grande divisor. Ele foi o primeiro a distinguir o mundo material de um mundo que não era material. Antes dele, Pitágoras e outros tantos falaram e expressaram conceitos de forma lúcida e genial, mas coube a Platão, com o vocabulário e dentro do conhecimento que a época permitia, formular idéias para explicar o até então inexplicado.

Nós somos tão ignorantes na avaliação dos fatos ao nosso redor! Tudo começou na tal “doença vibratória” que adquirimos muito tempo atrás, quando, além de termos perdido a simplicidade da alma, perdemos também a capacidade de nos auto-avaliarmos, e, na medida em que não sabemos nos avaliar, perdemos a condição de avaliar correta e coerentemente qualquer coisa ao nosso redor. Vejam vocês: numa discussão acadêmica a que tive oportunidade de assistir em São Paulo, alguém “encheu a boca” para dizer – Ah, é muito bom ser democrata como Platão, tendo escravos!... Isso porque, na época de Platão, havia escravos. A mesma situação, aliás, ocorreu comigo na cidade do Porto, em Portugal, por ocasião de palestra que proferia sobre tema próximo ao das idéias que Platão defendia.

Certo é que não podemos olhar para o passado e julgar com os olhos do presente. Se assim fosse, não haveria heróis da humanidade, nem haveria ninguém inteligente, até porque estaríamos exigindo que quem viveu há 2.600, 400 ou 120 anos pensasse da mesma forma como pensamos, o que seria um absurdo lógico.

Assim, as idéias de qualquer pessoa do passado devem ser analisadas sem esse crivo que distorce o seu mérito. Somente há pouco tempo a humanidade está lidando com colher, garfo e faca, com papel higiênico, com certas coisas que para nós hoje são corriqueiras, e não se consegue imaginar como se conseguia viver sem dispor dessas coisas, e, no entanto se vivia.

Portanto, é imperioso que, na hora em que formos avaliar o tributo a pessoas do passado, tenhamos o bom-senso – se é que existe – de não crivar as atitudes do passado com os valores que temos hoje. O que Platão, Sócrates, Aristóteles e tantos outros, Pitágoras, Tales de Mileto, homens geniais daquele tempo, fizeram, configura uma época única na história da humanidade. É pena que a mulher grega não tenha também podido contribuir, pois a mulher era tida como sendo de categoria existencial de segunda classe – e, aqui também, não podemos analisar esse aspecto da sociedade grega da época com o crivo dos olhos de hoje.

Platão foi o primeiro a dividir as coisas: um mundo material, animalizado, e um mundo inteligente, um “mundo das idéias”. Um mundo espiritual, sim! É apenas questão de vocábulos, mas os princípios são os mesmos.

Atenho-me, agora, com a ajuda dos amigos espirituais, especificamente ao cerne do que foi perguntado: o cérebro animal humano tem três – e somente três – funções. A primeira, é de “perceber”. E como o cérebro percebe? Ele percebe por meio dos sentidos do corpo no qual está inserido, e nosso corpo animal tem somente cinco sentidos. A criancinha pega o objeto, e de tanto a gente falar “lápis”, “lápis”, vai, pelo tato, sentindo que aquilo é um "lápis", põe na boca, mastiga... Ou seja, é com os sentidos que o ser humano tem que lidar com a realidade ao seu redor E assim, à medida que a criança vai crescendo, vai recebendo informações dos pais, dos irmãos, da babá, na escola, e vai criando a sua visão de mundo, ela vai percebendo. Barulho de avião? Ela já sabe que é um avião, porque alguém um dia explicou que aquilo é um avião, ou algum dia ela viu um avião na televisão fazendo aquele barulho. Então, a primeira função do cérebro é perceber a realidade. A segunda função é a de memorizar essas percepções nos arquivos cerebrais, e a terceira é a de trabalhar criticamente, utilizando-se do raciocínio, esses arquivos da memória. Essas são as três únicas funções que o cérebro humano tem.

O pior dessa história é que, como decorrência do raciocínio lógico, o cérebro não consegue dar conta daquilo que não conhece. Querem um exemplo? Vamos imaginar o nada. Ninguém, ninguém mesmo, consegue imaginar “se eu não existisse, como é que seria?”. O cérebro “entra em pane”!

Assim, o cérebro, por meio do aprendizado, vai-se abrindo para absorver a percepção de um conceito ou de uma idéia. Quando aparece uma novidade, o cérebro a absorve. A questão é – quem foi o primeiro a criar aquela novidade? De onde veio aquela novidade, onde ela estava antes de um ser humano poder formulá-la ou recebê-la intuitivamente? A partir dessa indagação, é que se pode tentar um esclarecimento do tal “mundo das idéias” de Platão. Se o melão fosse extinto da face da Terra, daqui a setecentos anos, se não houvesse reproduções da imagem ou registros na nossa literatura, ou nos laboratórios, não se teria idéia do que seria um melão. Até o século XVIII, ninguém ouvira falar em dinossauros, ninguém sabia que haviam existido, mas, hoje, todo mundo que seja minimamente informado, sabe.

Portanto, nosso cérebro lida com os fatos na medida em que vai sendo informado da sua existência. Só que há fatos na Terra que são puramente materiais. Os poetas da espiritualidade dizem que Deus não criou a tristeza, foi preciso que alguém, por pouca vigilância, se sentisse triste para que surgisse a tristeza. Mas, se não foi Deus quem criou a tristeza, se não foi Deus quem fez alguém ficar triste, a questão é – de onde veio a tristeza?

Em resumo, existem níveis fluídicos em que as emanações daquilo que cada ser humano produz – as formas-pensamento, as formas-sentimento – estão “voando por aí”, em dimensões que, ainda bem, não percebemos.

Estamos caminhando mediante experimentos do Dr. Rupert Sheldrake, que talvez nos permitirão, em pouco tempo, entender com mais propriedade, o que Platão já nos dizia há 2.400 anos.

Nos idos dos anos 60, cientistas japoneses que cuidavam de alguns grupos de macacos que viviam em ilhas isoladas do arquipélago do Japão – uma ilha aqui, outra ali, uma terceira mais distante ainda, de forma que os macaquinhos que viviam em uma ilha não viam os macaquinhos que viviam nas outras ilhas – notaram um fato curioso.

Esses cientistas saiam diariamente em barcos, jogando batatas para que os macacos se alimentassem. Os macacos pegavam as batatas e as comiam como estavam, sujas da areia da praia.

Um belo dia, os cientistas começaram a observar que uma pequena fêmea, estranhamente, adquirira o hábito de, antes de comer a batata, lavá-la na água do mar, para tirar a areia. Já que todos os macacos comiam a batata com areia e tudo, sabe-se lá de onde aquela macaquinha tirou a idéia de lavá-la antes? Fato é que, com o tempo, outros macacos daquela ilha estavam fazendo a mesmíssima coisa, e que, quando um “centésimo” macaco começou também a agir daquela forma, todos os macacos da ilha também passaram a lavar as batatas. E mais: os macacos de outra ilhas, que não viam os macacos da primeira ilha – a ilha da macaquinha “educada” – também estavam lavando as batatas antes de comê-las!

A partir daí, foi criada a “Teoria dos Campos Morfo-genéticos”, que alguns relacionam com a “alma coletiva” das espécies não pensantes, com o “mundo das idéias”, ou com “circuitos espirituais”.

Os espíritos dizem, brincando, em reuniões “lá em cima”: "se isso serve para os macacos, será que não serviria para os homens?".

Quando Jesus diz “olhem, amem uns aos outros” e alguém pensa “mas por que, num mundo onde todos são espertos, um mundo que só nos convida a sermos violentos, a ‘levar vantagem’, por que eu vou dar uma de "otário", e vou me tornar amoroso? Isso não vai adiantar nada!”, será que não estamos nós também ligados num circuito cósmico? Será que, quando um “centésimo” homem ou mulher da história conseguir se tornar amoroso, a quantidade de energia provocada por essa mudança de atitude não vai propiciar uma chuva de bons fluidos que venham a influenciar toda a raça humana do mesmo modo que funcionou com os macacos?

De fato, existe um mundo, ou muitos mundos, ou muitos níveis, que estão muito além do que pode a limitada ótica da percepção humana “ver”. Platão se referia a isso com as palavras que podia ele utilizar – as palavras da sua época.

Fato é que existe muito mais ainda do que Platão disse, mas não é o academicismo do mundo que vai conseguir compreender adequadamente isso, porque temos, todos nós, o orgulho intelectual vinculado a conceitos acadêmicos nem sempre corretos.

JAN VAL ELLAM

O Mundo das Idéias de Platão

Se olharmos 20 cavalos lado a lado iremos verificar que nenhum deles é igual ao outro. Diferem na cor, no tamanho, nos defeitos. Mas saberemos que todos são cavalos. Por que temos esta certeza? Por que temos a imagem mental do que seja um cavalo.

Pois Platão interessou-se por este questionamento. Os filósofos anteriores a Sócrates, e por isso chamados pré-socráticos, se dedicaram a explicar os fenômenos da natureza e de que são constituídas as coisas. Alguns afirmaram que tudo era transitório, outros que nada mudava. Platão aproveitou as duas idéias.

Na natureza tudo era imóvel, mas ao mesmo tempo tudo mudava. O filósofo criou uma teoria de dualidade. Tudo na natureza é composto por duas partes.

Uma que alcançamos por nossos sentidos. Assim vemos o tamanho de um cavalo, sua cor, seus defeitos, sentimos seu cheiro, sentimos sua pele. É o que chamou de mundo sensível. E tudo que pertence a este mundo está em transformação, é transitório.

Mas a outra parte, que ele chamou de mundo das idéias, só é acessível pela razão. Neste mundo está a idéia do que seja um cavalo, a "forma" que "moldou" o cavalo. E o mundo das idéias é eterno e imutável.

O mais interessante, é que na sua teoria, este mundo da idéia existe antes do sensível. A idéia do cavalo existe antes do cavalo em si. Segundo Platão, as almas vivem no mundo das idéias e encarnam no mundo sensível esquecendo das idéias que existiam em seu mundo original. Quando tem contato com os cavalos através dos sentidos vai aos poucos lembrando da idéia de um cavalo. Esta idéia, que alcança através da razão, é o cavalo perfeito, eterno.

Desta forma, a alma existe antes do corpo, e em nosso mundo fica limitada pela matéria. O corpo é uma prisão para a alma. O bom é o mundo das idéias. O mundo da matéria é instável, aparente e tenta imitar sem muito sucesso o mundo das formas.

É claro que muita gente contesta esta idéia de Platão, a começar por seu discípulo mais famoso, Aristóteles. E você? O que acha?

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Platão de Atenas (428/27 a.C. — 347 a.C.) foi um filósofo grego. Discípulo de Sócrates, fundador da Academia e mestre de Aristóteles. Acredita-se que seu nome verdadeiro tenha sido Aristócles; Platão era um apelido que, provavelmente, fazia referência à sua caracteristica física, tal como o porte atlético ou os ombros largos, ou ainda a sua ampla capacidade intelectual de tratar de diferentes temas. Πλάτος (plátos), em grego significa amplitude, dimensão, largura. Sua filosofia é de grande importância e influência. Platão ocupou-se com vários temas, entre eles ética, política, metafísica e teoria do conhecimento.

A vida

Platão (em grego Πλάτων) nasceu um ano após a morte do estadista ateniense Péricles. Seu pai, Aristão , tinha como ancestral o rei Codros e sua mãe, Perictione, tinha Sólon entre seus antepassados. Inicialmente, Platão entusiasmou-se com a filosofia de Crátilo, um seguidor de Heráclito. No entanto, por volta dos 20 anos, encontrou o filósofo Sócrates e tornou-se seu discípulo até a morte deste. Pouco depois de 399 a.C., Platão esteve em Mégara com alguns outros discípulos de Sócrates, hospedando-se na casa de Euclides. Em 388 a.C., quando já contava quarenta anos, Platão viajou para a Magna Grécia com o intuito de conhecer mais de perto comunidades pitagóricas. Nesta ocasião, veio a conhecer Arquitas de Tarento. Ainda durante essa viagem, Dionísio I convidou Platão para ir a Siracusa, na Sicília. Platão parte para Siracusa com a esperança de lá implantar seus ideais políticos. No entanto, acabou por se desentender com o tirano local e retorna para Atenas.

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Em seu retorno, funda a Academia. A instituição logo adquire prestígio e a ela acorriam inúmeros jovens em busca de instrução e até mesmo homens ilustres a fim de debater idéias. Em 367 a.C., Dionísio I morre, e Platão retorna a Siracusa a fim de uma vez mais tentar implementar suas ideias políticas na corte de Dionísio II. No entanto, o desejo do filósofo foi novamente frustrado. Em 361 a.C. volta pela última vez a Siracusa com o mesmo objetivo e pela terceira vez fracassa. De volta a Atenas em 360 a.C., Platão permaneceu na direcção da Academia até sua morte, em 347 a.C.

Em linhas gerais, Platão desenvolveu a noção de que o homem está em contato permanente com dois tipos de realidade: a inteligível e a sensível. A primeira, é a realidade, mais concreta, permanente, imutável, igual a si mesma. A segunda são todas as coisas que nos afetam os sentidos, são realidades dependentes, mutáveis e são imagens das realidades inteligíveis.

Tal concepção de Platão também é conhecida por Teoria das Idéias ou Teoria das Formas. Foi desenvolvida como hipótese no diálogo Fédon e constitui uma maneira de garantir a possibilidade do conhecimento e fornecer uma inteligibilidade relativa aos fenômenos.

Para Platão, o mundo concreto percebido pelos sentidos é uma pálida reprodução do mundo das Idéias. Cada objeto concreto que existe participa, junto com todos os outros objetos de sua categoria, de uma Idéia perfeita. Uma determinada caneta, por exemplo, terá determinados atributos (cor, formato, tamanho, etc). Outra caneta terá outros atributos, sendo ela também uma caneta, tanto quanto a outra. Aquilo que faz com que as duas sejam canetas é, para Platão, a Idéia de Caneta, perfeita, que esgota todas as possibilidades de ser caneta.

A ontologia de Platão diz, então, que algo é na medida em que participa da Idéia desse objeto. No caso da caneta é irrelevante, mas o foco de Platão são coisas como o ser humano, o bem ou a justiça, por exemplo.

O problema que Platão propõe-se a resolver é a tensão entre Heráclito e Parmênides: para o primeiro, o ser é a mudança, tudo está em constante movimento e é uma ilusão a estaticidade, ou a permanência de qualquer coisa; para o segundo, o movimento é que é uma ilusão, pois algo que é não pode deixar de ser e algo que não é não pode ser, assim, não há mudança.

Ou seja (por exemplo), o que faz com que determinada árvore seja ela mesma desde o estágio de semente até morrer, e o que faz com que ela seja tão árvore quanto outra de outra espécie, com características tão diferentes? Há aqui uma mudança, tanto da árvore em relação a si mesma (com o passar do tempo ela cresce) quanto da árvore em relação a outra. Para Heráclito, a árvore está sempre mudando e nunca é a mesma, e para Parmênides, ela nunca muda, é sempre a mesma e é uma ilusão sua mudança.

Platão resolve esse problema com sua Teoria das Idéias. O que há de permanente em um objeto é a Idéia, mais precisamente, a participação desse objeto na sua Idéia correspondente. E a mudança ocorre porque esse objeto não é uma Idéia, mas uma incompleta representação da Idéia desse objeto. No exemplo da árvore, o que faz com que ela seja ela mesma e seja uma árvore (e não outra coisa), a despeito de sua diferença daquilo que era quando mais jovem e de outras árvores de outras espécies (e mesmo das árvores da mesma espécie) é sua participação na Idéia de Árvore; e sua mudança deve-se ao fato de ser uma pálida representação da Idéia de Árvore.

Platão também elaborou uma teoria gnosiológica, ou seja, uma teoria que explica como se pode conhecer as coisas, ou ainda, uma teoria do conhecimento. Segundo ele, ao vermos um objeto repetidas vezes, uma pessoa lembra-se, aos poucos, da Idéia daquele objeto, que viu no mundo das Idéias. Para explicar como se dá isso, Platão recorre a um mito (ou uma metáfora) que diz que, antes de nascer, a alma de cada pessoa vivia em uma Estrela, onde localizam-se as Idéias. Quando uma pessoa nasce, sua alma é "jogada" para a Terra, e o impacto que ocorre faz com que esqueça o que viu na Estrela. Mas ao ver um objeto aparecer de diferentes formas (como as diferentes árvores que se pode ver), a alma recorda-se da Idéia daquele objeto que foi vista na Estrela. Tal recordação, em Platão, chama-se anamnesis.


A concepção de homem na filosofia grega

Cristina G. Machado de Oliveira

Numa visão platônica há uma realidade diversa da mental e da sensível, isto é, o mundo das essências ideais, universais, incorpóreas, imutáveis, eternas, que ele chama Idéias. Assim, há o Mundo das Idéias, transcendente, fora do espaço e do tempo, além do mundo e além dos limites do pensamento. O Ser é a Idéia: esta a grande tese ontológico-metafísica de Platão e do platonismo autentico. O que não é Idéia é pela Idéia; o que não é Idéia é apenas por e enquanto participa da própria Idéia.

No diálogo Timeu, ao definir a natureza humana, Platão, classifica-a como possuindo uma alma imortal, uma alma mortal e um corpo humano (mortal). Conceituou a produção das doenças da alma análogas às do corpo. A doença da alma é a demência, e esta decompõe-se em duas espécies – a loucura e a ignorância.

no livro VII da República, além de reconhecer que a sensação quando se limita ao simples sentir é conhecimento digno de confiança, a sensação coloca a mente diante das contradições. A alma adverte uma aporia e é obrigada a abrir um “inquérito”, isto é, a exercitar sobre as contradições o pensamento ( nóesis ). Na sensação são imanentes os elementos que incitam o pensamento a ultrapassá-la, a transcendê-la: as contradições do sentido reclamam um esclarecimento e uma composição; por isso a sensação é um reenvio ao pensamento. Um reenvio e um indício: as diversas coisas, iguais ou semelhantes formulam o problema do igual e do semelhante que sejam perfeitamente tais. Assim a sensação desperta a Idéia a quem sabe adquirir consciência do apelo que ela contem à essência eterna e perfeita, da qual são cópia o grau do ser que está nas coisas e o saber que está em nós.

Há algo de escandaloso na experiência sensível, e esse escândalo é sempre, no platonismo, o motor do pensamento. Esse escândalo é a experiência da contradição. Que uma realidade possa ser ao mesmo tempo ela mesma e seu contrário, eis o que é propriamente ininteligível e de natureza a suscitar o esforço de reflexão devido a confusão a que se acha relegado o pensamento. Ora, assim são os objetos sensíveis, eles não têm qualquer permanência, qualquer identidade, são e não são o que se diz que eles são. As grandezas sensíveis são portanto relativas, podendo uma quantidade qualquer ser considerada tanto como o dobro de outra, quanto como a metade de uma terceira. Essa afirmação fica explícita no seguinte enigma: “ Um homem que não é um homem, vendo e não vendo um pássaro que não é um pássaro empoleirado numa árvore que não é uma árvore, bate nele e não bate com uma pedra que não é uma pedra”. Seu sentido é: “Um eunuco zarolho visa um morcego empoleirado num sabugueiro com uma pedra-pomes, e erra o alvo.” Esse enigma ilustra bem a ambigüidade do sensível e o mal-estar intelectual que dele decorre. A alma é então levada a examinar por si mesma o que lhe causa problema, ela arranca das seduções do sensível e se esforça por torná-lo inteligível, valendo-se unicamente de seus recursos.

O que estaria em jogo no conhecimento não seria somente a questão do ser e da aparência, mas também a do sentido e do valor de nossa existência.

Platão revelou o que está em jogo no conhecimento na alegoria da caverna, onde ele mostra a idéia de que conhecer consiste em se liberar das correntes que nos condenam à ignorância e onde ele desvenda que, em última análise, o problema do conhecimento se confunde com o da educação.

O homem deve caminhar desde a opinião até à ciência educando-se gradualmente. No mundo sensível, os homens são como escravos agrilhoados numa caverna e obrigados a ver no fundo dela as sombras por um fogo que arde fora. Tomam estas sombras pela realidade, porque não conhecem a realidade verdadeira. De fato, trata-se de operar a passagem do mundo sensível ao mundo inteligível, e esse movimento é um doloroso e difícil movimento de alforria. Exige etapas pelas quais a alma se esforça progressivamente por se elevar em direção às idéias, e compreendemos que essa ascensão é, antes de mais nada, uma conversão da sombra à luz, o que no fundo é uma maneira de reentrar em si mesmo para olhar com os olhos da alma aquilo que de início estávamos condenados a deformar, porque o captávamos com os olhos do corpo. A alma cravada às sujeições do corpo, as exigências da razão sufocadas pela onipotência dos desejos e dos interesses, eis os recursos da ignorância e a vitória do mal, eis a caverna e sua sedução, eis também a idéia de que a salvação está na fuga. É para essa fuga do sensível que a ciência nos convoca, é esse caminho de ascensão e de ascese que a educação platônica propõe.

Desse modo, há uma ilusão constitutiva de nossa primeira abordagem do real e o que nos engana é, inicialmente, nós mesmos. As sombras da caverna são essas aparências sobre a parede de nossos sentidos. Deformamos o real porque o apreendemos espontaneamente através de nossas impressões sensíveis, de nossos desejos, nossas paixões, nossos interesses, nossos hábitos, em suma, através de tudo aquilo que nos confina nesse reino de ilusões em que, impotentes para ver os objetos cujas sombras não passam de sombras, ignoramos que elas são sombras e as tomamos por realidade. Esta impotência está ligada à passividade do espírito acostumado desde a infância a receber sem exame muitas crenças falsas como verdadeiras.

Esse sacrifício faz, aliás, o jogo dos que Platão apresenta como animadores de marionetes, ilusionistas de todos os gêneros, que fazem com que tomemos por real o que não passa de sombras.

Platão estabelece duas relações importantes. O que o reflexo, a sombra é para o objeto real, o visível é para o inteligível, e a opinião é para a ciência. E sobretudo ele sugere a partilha do inteligível : o que o reflexo é para o objeto sensível, os objetos matemáticos são para as Idéias puras.

A fuga do filósofo para fora da caverna, sua ascensão dialética até a visão última, aliás jamais atingida, não selam o sentido de seu destino ou, antes, esse destino é indistintamente de ordem teórica e de ordem prática. Trata-se de viver e, se a ciência é um imperativo, é porque apenas a ciência do Bem permite viver bem.

Porém, o nosso conhecimento das coisas naturais é como o dos escravos. Se o escravo que primeiro se libertou voltar à caverna, os seus olhos serão ofuscados pela obscuridade e não saberá discernir as sombras; pelo que será escarnecido e desprezado pelos companheiros, que concederão as honras máximas aos que sabem mais agudamente ver as sombras. Mas ele sabe que a verdadeira realidade está fora da caverna, que o verdadeiro conhecimento não é o das sombras e, por isso, não experimentará senão compaixão com aqueles que se contentam com tal conhecimento e o julgam verdadeiro.

A educação consistirá, desse modo, em volver o homem da consideração do mundo sensível à consideração do mundo do ser; e em conduzi-lo gradualmente a avistar o ponto mais alto do ser, que é o bem. O bem corresponde no mundo do ser ao que o sol é no mundo sensível. Como o sol não só torna visível as coisas com a sua luz mas as faz nascer, crescer e alimentar-se, assim o bem não só torna cognoscíveis as substâncias que constituem o mundo inteligível, mas lhes dá ainda o ser de que são dotadas. Por esta sua preeminência o bem não é uma idéia entre as outras, mas a causa das idéias.

A justiça visa, pelo conhecimento e pela ação, a realizar a superioridade humana, ela é uma escola de virtude. E, se esse projeto ético é também político, é porque ninguém pode realizar sua excelência fora de uma cidade que não seja, ela mesma, excelente. A justiça consiste em unificar e hierarquizar uma determinada multiplicidade de acordo com um modelo divino que o discurso se esforça por desvendar.

Segundo Platão faz parte da educação do filósofo o regresso à caverna, que consiste na reconsideração e na reavaliação do mundo humano à luz do que se viu fora deste mundo. Regressar à caverna significa, para o homem, por o que se viu à disposição da comunidade, dar-se conta ele próprio deste mundo, portanto o seu mundo, e obedecer ao vínculo de justiça que o liga à humanidade na sua própria pessoa e na dos outros. Deverá, pois, reabituar-se à obscuridade da caverna; e então verá melhor do que os companheiros que ali permaneceram e reconhecerá a natureza e os caracteres de cada imagem, por ter visto o seu verdadeiro exemplar: a beleza, a justiça e o bem. Assim poderá o estado ser constituído e governado por gente desperta e não por quem sonha e combate entre si por sombras, e disputa o poder como se este fosse um grande bem. Só com o regresso à caverna, só comprometendo-se o mundo humano, o homem terá completado a sua educação e será verdadeiramente filósofo.

Já o discurso ontológico de Aristóteles vem inserido dentro de uma esquematização lógica de discurso racional instituída como doutrina: tanto da estruturação formal do próprio discurso, quanto do processo cognoscitivo. As categorias de Aristóteles expressam, por certo, uma culminação do modo grego de pensar. Parmênides, entretanto, está na base da instauração deste modelo. Para Parmênides, só há discurso e verdade, se houver identidade, para além da palavra, entre ser e pensar. O problema fundamental de seu discurso filosófico é a representação do “ser”, e, portanto, tal como se diz tradicionalmente, ontológico; mas enquanto representação do ser, ele se constrói gnoseológicamente, propondo uma articulação entre ser e pensar e a sua expressão conjugada no discurso, a partir de um ponto de vista sintático-gramatical. Ou seja, ele é, sim ontológico, mas concebido por um ponto de vista gnoseológico e gramatical. Ele é otológico, porque o ser, para Parmênides, antes de qualquer palavra e pensamento, é o sujeito indefectível da existência, onde secretamente está e permanece. Ele é a premissa da existência, porque as coisas são, para si mesmas, aquilo que são, e por isso nascem e crescem de tal modo, e assim morrem, porque estão destinadas por Natureza. Sendo a premissa da existência, ele também deve ser, através do pensamento, o conteúdo da expressão, porque é o pensamento, na palavra, que evoca e o manifesta, estigmatizando-o no discurso. A fim de que o pensamento seja verdadeiro, ele necessariamente deve estar subordinado ao “ser”,e o discurso, à esta mesma premissa significante.

A rigor, também em Aristóteles, e tal como em Parmênides, o aspecto ontológico do discurso filosófico não se desvincula do semântico, e, este, do gnoseológico. Nele, particularmente o conteúdo da comunicação filosófica ou da ciência passa pela coerência lógica do discurso como garantia da veracidade de princípios que se insinuam na articulação das palavras.

Decorrente disso, o sujeito na filosofia grega é aquele do qual se dizem as demais coisas, sem que ele, de sua parte, se diga de outra. Por isso temos que determinar em primeiro lugar sua natureza, porque o sujeito primeiro parece ser substância em um grau supremo.

Bibliografia:

ABBAGNANO, Nicola. História da Filosofia. Vol.1.Lisboa: Presença,1969.

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São Paulo: Ed. Moderna, 1992.

COTRIM, Gilberto. Fundamentos da Filosofia – Ser, Saber e Fazer. São Paulo: Ed. Saraiva, 1997.

MANON, Simone. Platão. São Paulo: Martins Fontes,1992.

MONDOLFO, Rodolfo. O Pensamento Antigo. São Paulo: Mestre Jou, 1971.

SCICCA, Michele Federico. História da Filosofia. Vol. 1 São Paulo: Mestre Jou, 1967.

SPINELLI, Miguel. Aristóteles e a questão do ser. In, Dissertatio, vol I, n. 1, 1995.



" Roteiros do desespero, cadáveres que se aceitem. todos nós sobrevivemos e morremos apenas para cumprir uma formalidade inútil" E. M. Cioran - do Livro Breviário de Decomposição

Primeiro livro escrito em francês pelo filósofo romeno, Breviário de decomposiçãoo é uma excelente introdução à obra do mestre, cujo primeiro ensaio, Nos cumes do desespero, editado em 1934, valeu ao autor o Prêmio dos Jovens Escritores Romenos.

Lado a lado com uma irada crítica ao fanatismo, o livro traz uma retomada da temática mística, tratada anteriormente em Das lágrimas e dos santos, texto de 1937.

O estilo do filósofo concentra poesia e prosa, precipício e altura, desesperança e lucidez que atinge neste livro os limites de uma radicalidade existencial a um só tempo consciente e arrebatada. Uma meditação sobre o homem e a sociedade, e também "um catálogo frenético de nossos instintos assassinos".

As idéias nascem puras, neutras. O homem lhes dá vida, força, vigor. E projeta suas faíscas, suas loucuras. É ai que se consuma a passagem da lógica à epilepsia. É assim que surgem as mitologias, as doutrinas, as farsas sangrentas; momentos de intolerância ou proselitismo que revelam as profundezas do entusiasmo. Esse é, em resumo, o pensamento de Cioran em Breviário de decomposiçãoo, um verdadeiro código do desespero.

E. M. Cioran nasceu em 1941, na Romênia, formando-se em Filosofia pela Universidade de Bucareste. Em 1937, mudou-se para a França, onde escreveu a maior parte de sua obra. Do autor, a Rocco publicou Breviário de decomposição, Silogismos da amargura, História e utopia e Antologia do retrato. Émile Michel Cioran. (1911-1995)


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